segunda-feira, 2 de maio de 2011

sobre música antiga, contemporânea e plágios




Eu cresci com a popularização da internet no Brasil e daí nasceu o hábito de vasculhar sons que me pareciam agradáveis; com o passar dos anos, o próprio conceito de “agradável” ganhou novos contornos em minha vida e aquilo tudo que parecia esteticamente adequado aos ouvintes bem comportados começava a me desagradar. Uma das coisas que mais me chamava a atenção na música clássica era seu caráter transgressor e foi nesse mesmo quesito que o rock’n roll surgiu como uma paixão inevitável.

Nesta transição entre sons de épocas e propostas distintas, fui apresentado a uma banda brasileira chamada Angra que até então meus ouvidos desconheciam. Ter internet em casa naquela época era um privilégio de poucos e os laboratórios do colégio viviam lotados, ao que resolvi tirar uma tarde para baixar a primeira coisa que achasse do grupo motivado por um diálogo mantido com um colega de turma:

- Você curte música clássica então?
- Muito, por quê?
- Então procure pelo Angra, você vai gostar.

Seguindo a velha ordem cronológica, deparei-me com o debut Angels Cry (1993) que algumas críticas pontuavam como o melhor trabalho do grupo. Jovem e sedento por sonoridades alternativas, não encontrei naquele material o que procurava em termos de rock, ainda que Carry On e Evil Warning ficassem em minha memória como registros competentes.

Passada a audição, restava uma dúvida na inferência lógica apontada pelo meu colega entre música clássica e metal melódico. Eu não sabia a que gênero ou subgênero pertencia o grupo e tal ignorância foi benéfica, como raras vezes pode ser, quando crivei a única e decepcionante associação que identifiquei entre os dois estilos: dois plágios, um do capricho #24 de Paganini e outro do concerto Inverno, das famosas Quatro Estações de Vivaldi.

Plágios, arranjos, cópias descaradas, chame o caro leitor como quiser o ato de se apropriar da produção alheia e assiná-la como sua. Fora as colagens das obras supracitadas, deprimentes teclados tentavam simular o som das cordas e algo muito meloso, delicado até o ponto da náusea, exalava daquele álbum. É a esse tipo de concepção criativa que Edu Falaschi, atual vocalista, chama de “fazemos uma mistura com MPB e musica clássica”. Para um adolescente em formação, tais declarações são letais e podem distorcer toda sua concepção histórica e técnica da música.

Nutriria maior respeito por certos grupos se eles não alegassem influências onde não existem. Dizer que Angra ou grupos de tônica ainda mais melódica são norteados por Bach, Beethoven, Rachmaninov e etecetera é tão inteligente quanto dizer que André Rieu e Richard Claydermann são ases de seus instrumentos e legítimos representantes da música antiga.

É muito mais honesto bater um balde contra uma parede e dizer “fazemos a nossa música do nosso jeito para quem desejar ouvir” a escorar sua referência de produção em cabeças geniais do passado. Cabeças geniais e mortas, infelizmente, incapazes de reclamar para si os direitos de copyright e propriedade autoral, coisa que o próprio Angra acaba de fazer com os inspiradíssimos membros do Parangolé.