Richard "Rick" Wright, David Gilmour, Roger Waters e Nicholas "Nick" Mason |
Música, vocês sabem, é algo extremamente relativo. Há quem goste de música clássica, há quem goste de blues, há quem goste de música flamenca, há quem goste dos ritmos tradicionais do oriente, há quem goste de polca, etc. Há quem goste, inclusive, de música como o funk carioca e a atual cena sertaneja - "gostar" e "música", nestes casos em específico, são conceitos absolutamente relativos, e deixarei aos leitores pensar a respeito. O rock, estilo tão rico que é, subdividido em inúmeras vertentes, pode ser visto da mesma maneira: há quem goste de rockabilly, há quem goste de thrash metal, há quem goste de punk, há quem goste de skiffle, há quem goste de hard rock e por aí vai. Achar pessoas com um gosto musical semelhante é muito raro nos dias de hoje, e a internet tem servido como uma poderosa ferramenta para encontrar essas pessoas.
A meu ver, no entanto, nenhuma das vertentes supracitadas tem mais "lovers" e "haters" do que o rock progressivo. O estilo, fundado na segunda metade da década de 1960 e no início da década de 1970 (segundo a maioria das fontes), traz duas visões que, apesar de opostas, podem ser perfeitamente pertinentes e discutíveis. Se por um lado a complexidade e o experimentalismo do rock progressivo foi um excelente meio de "testar" os instrumentos (inclusive, testar novos instrumentos e suas respectivas sonoridades) ao ponto de extrair todas, ou quase todas, as limitações de cada um deles, por outro lado a cadência do ritmo acaba por deixá-lo cair na monotonia, para quem ainda não se adequou ao estilo de composição. Composições longuíssimas como Echoes (Pink Floyd, 23min 29seg), Anonymous Two (Focus, 26min 19seg) e as quatro músicas do memorável Tales from Topographic Oceans, do Yes (somadas alcançam os 81min 15seg), além da temática conceitual de boa parte dos discos do estilo, tornam o rock progressivo algo chato e repetitivo para quem ainda não se adequou a ele.
Mas há uma (possivelmente, somente uma) exceção. Dark Side of the Moon, sexto disco de estúdio dos ingleses de Cambridge, Pink Floyd, lançado em março de 1973, costuma agradar a gregos e troianos. O disco traz marcas impressionantes consigo: pra começar, é o segundo disco mais vendido de toda a história da música, com impressionantes 50 milhões de cópias (à frente, só Thriller, de Michael Jackson, recordista absoluto com mais de 100 milhões de cópias vendidas). É também o disco recordista de permanência no Top 200 da Billboard: 795 semanas consecutivas, pouco mais de 15 anos. Estima-se que, nos EUA, a cada 14 pessoas com menos de 50 anos, pelo menos uma tem uma cópia original do Dark Side of the Moon.
Não pouparei elogios ao Dark Side of the Moon. Por mais que, de uns tempos pra cá, tenha se tornado um clichê apontá-lo como obra máxima do Pink Floyd, do rock progressivo e até da música, para alguns poucos, é impossível deixá-lo de lado ao apontar uma lista (por mais imprevisíveis que as listas geralmente sejam) contendo os maiores lançamentos de todos os tempos. Diferente de outros discos que tiveram uma alta vendagem, como o já citado Thriller, o Back in Black (AC/DC, 1980 com aproximadamente 49 milhões de discos vendidos) ou Led Zeppelin IV (Led Zeppelin, 1969, com mais de 37 milhões de cópias vendidas), Dark Side of the Moon não se destaca por uma ou mais faixas (pode-se citar as faixas título dos dois primeiros e Stairway to Heaven, no último, dentre os três discos citados), mas sim pelo conjunto da obra, que é de natureza conceitual.
Discos conceituais... há pouco eu disse que álbuns que seguem essa linha geralmente não são tão aclamados por não fãs do prog. Então, por que esse sucesso do DSotM? A resposta não é tão simples assim, na verdade. Talvez um dos motivos seja o fato de que o disco já era tocado em turnê própria desde janeiro de 1972, 14 meses antes de seu lançamento oficial - o que, obviamente, não explica tudo, já que 1) o disco lançado era bem diferente das faixas inicialmente tocadas; 2) The Piper at the Gates of Dawn, o debut do Pink Floyd, era executado desde meados de abril de 1965, ainda com Bob Klose na guitarra e ainda sob o nome The Abdabs, e foi lançado apenas em agosto de 1967, sem, no entanto, ter feito o mesmo sucesso de Dark Side of the Moon - grandes nomes da música, como Paul McCartney, já apontaram The Piper (...) como o melhor disco da carreira do Pink Floyd, opinião compartilhada por este que vos escreve.
Capa do disco, uma das mais mitológicas da história da música |
Dark Side of the Moon firmou-se como um dos maiores clássicos de todos os tempos não à toa. É um dos discos mais perfeitos e mais bem compostos de todos os tempos. Curiosidades, sincronias e mistérios à parte, as mais sutis nuances da vida e da morte, as alegrias, as decepções, a loucura, a euforia, a ganância, a humildade, o tempo, a amizade, bem como as linhas tênues que permeiam todos estes e muitos outros aspectos de nossa vida, são retratados de forma brilhante em Dark Side of the Moon. Obra mais que obrigatória na estante do bom gosto musical.
There's no dark side of the moon really. As a matter of fact, it's all dark.