sábado, 31 de dezembro de 2011

retrospectiva 2011 - o que ouvi este ano

Baseado na ideia da Paula em seu blog, resolvi falar um pouco dos discos lançados neste "quase ido" ano de 2011 que ouvi. Não foram lá muitas coisas, mas talvez seja interessante dar uma passada rápida e, de certa forma, ver o que veio de pérolas este ano - no sentido positivo ou no sentido pejorativo da palavra. Caso queiram expor seus pareceres sobre o seu ano de 2011 nos comentários, sintam-se à vontade.

Artillery - My Blood

Comecei relativamente tarde a olhar para 2011; era abril quando saiu o mais novo disco da veterana banda de thrash dinamarquesa, o Artillery. A cena thrasher europeia resume-se basicamente à Alemanha, a princípio, já  que é de lá que vêm bandas clássicas como Kreator, Sodom, Destruction e Tankard (estas quatro conhecidas como o "teutonic big four of thrash"). No entanto, bandas como o Artillery existem aos montes para quem tiver com disposição para ouvi-las - talvez, futuramente, postamos algo por aqui aos interessados. O Artillery tem uma discografia que, embora não tão expressiva em termos de vendagem, é bastante consistente em termos de sonoridade; é uma das bandas thrash que faz questão de soltar petardo atrás de petardo, sem muito espaço para algo que não seja aquele thrash clássico dos anos 1980. E o My Blood traz justamente este espírito, enfatizado pela faixa que abre o disco, Mi Sangre, que lembra bastante (pelo menos no instrumental) o debut Fear of Tomorrow (1985). O vocal, entretanto, deixa um pouco a desejar - a meu ver, faltou peso nos vocais quando a música pedia mais peso. Ainda assim, recomendadíssimo para os fãs do thrash dos anos 1980.

Opeth - Heritage

O Opeth me era uma incógnita quando me foi recomendado por um amigo. O que eu havia ouvido, garimpado com um tremendo mal gosto no YouTube, não era nem perto do suficiente para se arriscar a dizer que eu conhecia a banda. O que eu sabia dos caras é que eles eram suecos (o que por si só já traz uma boa impressão, bandas suecas costumam ser extremamente competentes no seu som) e que os discos lançados anteriormente mesclavam o tradicionalíssimo death metal escandinavo com elementos do folk, do jazz e do rock progressivo. Mesmo sem conhecer nada do som da banda, me predispus a ouvir o Heritage, que foi muito bem aceito pela crítica. Grata surpresa: o disco provou todas as expectativas. Um álbum extremamente maduro, músicos competentíssimos e belas composições. Para os fãs do progressivo, audição obrigatória; para aqueles que não suportam o experimentalismo progressivo, o disco talvez seja uma boa "nova tentativa" de finalmente encontrar-se com o estilo.

Hell - Human Remains

A NWoBHM não cansa de me surpreender. O movimento, muito provavelmente o maior da história da música em termos de influência e, digamos, de euforia que causou pelos quatro cantos do mundo, fascina a qualquer um que seja apaixonado pelo heavy metal, como eu. E quando você acha que não pode encontrar mais nada de novo, vem uma nova banda e te surpreende - ou nem tão nova, no caso. O que surpreende no Hell, além do som, obviamente, é a sua história curiosa: a banda foi formada em meados de 1982 e trabalhou apenas em algumas demos, mas só neste ano de 2011 foram lançar seu primeiro disco, Human Remains. A sensação ao ouvir esse achado é semelhante a estar em um laboratório de um desses cientistas loucos, enquanto se assiste ao "descongelamento" de um ser que ficou quase 30 anos em estado de criogenia. Os riffs secos e diretos, a influência do punk, até mesmo uma certa inocência, mesmo em tempos de um mercado fonográfico tão voraz, tudo isso salta demais aos olhos ao colocar o disco no play. Uma obra-prima.

Queensrÿche - Dedicated to Chaos

O Queensrÿche não foi uma banda que me agradou, à primeira vista. Torci o nariz ao ouvir o Empire (1991), certa vez, embalado pelo maior sucesso da banda, Silent Lucidity - e que atire a primeira pedra quem nunca ouviu a música. Tudo mudou quando fui apresentado ao disco debut dos caras, The Warning (1984) - disco esse que rendeu uma resenha aqui no blog, inclusive. As quebras de ritmo com a precisão do progressivo (obviamente, bem mais suaves) aliado à ferocidade do heavy metal, e com mais ênfase a este último aspecto, pautavam o som da banda que foi uma das pioneiras no chamado metal progressivo. Os discos Rage for Order (1986) e o masterpiece Operation: Mindcrime (1988) seguiram na mesma linha de composição, em uma vertente toda particular do metal prog que eu me atreveria a chamar, dentro dos moldes atuais de composição do estilo, de inocente. Com o sucesso comercial do Empire, as coisas mudaram drasticamente, e o Queensrÿche aparentemente começou a flutuar entre esse metal mais inocente e outro, mais maduro, nos moldes do Dream Theater e do Porcupine Tree. Não deu muito certo: as composições começaram a ficar "confusas", quase que sem identidade. A derrocada culminou no Dedicated to Chaos, lançado esse ano, um disco muito fraco comparado aos poderosos lançamentos de outrora. Ponto positivo, porém, para os sempre poderosos vocais de Geoff Tate.


Marty Friedman - Tokyo Jukebox II

Marty Friedman sempre foi um guitarrista que ficou às margens do sucesso. Exceto em sua passagem pelo Megadeth, sempre foi um cara absolutamente fora dos holofotes. Mas essa aparente humildade esconde uma mente genial. Prova disso são os seus trabalhos iniciais: dois discos com o Hawaii (One Nation Underground, 1983, e Natives are Restless, 1985) e dois discos com o Cacophony (Speed Metal Symphony, 1987, e Go Off!, de 1988) - cujo companheiro de guitarra era ninguém menos que Jason Becker, que integrou a banda de David Lee Roth após o fim da banda. Os discos (e em particular os debuts) de ambas as bandas são obras-primas do metal, que ficaram subjulgadas sob obras de bandas mais famosas, incluindo a banda seguinte de Friedman, o Megadeth. Este foi sem sombra de dúvidas o ápice da carreira de Friedman: o petardo Rust in Peace (1990), os sucessos absolutos de público e crítica Countdown to Extinction (1992) e Youthanasia (1994), o disco de covers Hidden Treasures (1995) e os obscuros Crypting Writings (1997) e Risk (1999). Daí, Friedman partiu para sua carreira solo, para seguir uma sonoridade mais pop e influenciada pela cultura japonesa. Os três últimos discos por ele lançados, Tokyo Jukebox (2009) e Bad DNA (2010), além do próprio Tokyo Jukebox II, são o ápice de sua carreira que, apesar de muito diferente de tudo o que ele já faz anteriormente, é interessantíssima - inclusive por essa disparidade. Audição mais do que recomendada.

Michael Schenker - Temple of Rock

Taí um guitarrista que eu julgo extremamente desvalorizado. Foi ele o primeiro a unir a velocidade à virtuosidade nos seus solos, e sem nenhum dispositivo eletrônico existente à época. O prodígio Michael Schenker gravou seu primeiro disco, Lonesome Crow (o disco debut da banda alemã Scorpions), com apenas 16 anos, uma guitarra herdada do seu irmão mais velho, Rudolf Schenker (que também tocou no disco, com uma guitarra um pouco mais nova - ou menos usada) e um Marshall em frangalhos, segundo reza a lenda. Com apenas 17 anos, foi convidado a integrar uma das maiores bandas do mundo à época, a inglesa UFO, em 1973. Seguiu para sua carreira solo, sob o nome de MSG, Michael Schenker Group, na década de 1980, que foi várias vezes interrompida devido a seu vício na bebida e nas drogas. Seu novo lançamento, Temple of Rock, no entanto, não lembra em nada algumas características de seus outros discos. Schenker, provando ser um guitarrista muito mais maduro e mais virtuoso do que nunca, criou uma sonoridade totalmente única neste disco que, para mim, é o melhor lançamento do ano. O fraseado de Schenker e a participação de músicos competentíssimos, do quilate de Doogie White, ex-vocalista do Rainbow, seu irmão Rudolf e o ex-baterista dos Scorpions, Herman Rarebell, são a maior atração do disco, que também conta com uma produção fenomenal.

Metallica - Lulu e Megadeth - Th1rt3en


São dois discos de características muitíssimo diferentes mas, já que a rivalidade entre as bandas é gigantesca e houveram muitas piadinhas a respeito, tratá-los em um tópico só não soa tão absurdo. Talvez tenham sido esses os lançamentos mais esperados do ano pelos fãs do metal: o disco do Megadeth precisava segurar a peteca de uma banda que vinha de um excelente antecessor, o Endgame (2009); já o disco do Metallica atraía a atenção de todos por ser um momento crucial na discografia da banda, que vinha de fracassos de crítica como Load (1996), e St. Anger (2003), mas que melhorou consideravelmente com o Death Magnetic (2008), além de trazer uma parceria no mínimo inusitada com Lou Reed (ex-Velvet Underground). Dada a ousadia do Metallica (a meu ver, no momento errado) e a precaução do Megadeth, prevaleceu o que todos esperavam: Lulu foi achincalhado por fãs e crítica (ao ponto de ser apontado como o pior disco do ano segundo o Female First e o 32° pior disco da história da música, segundo o site Metacritic), e Th1rt3en, apesar de não saltar aos olhos, foi bem recebido.

E pra você, qual o melhor lançamento de 2011? E o pior? Qual disco faltou na lista?