segunda-feira, 18 de julho de 2011

capítulo 5: hard as a rock




Até meados de 1967 - que foi tido por muitos como o ano da psicodelia, por lançamentos como The Piper at the Gates of Dawn (Pink Floyd), Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (The Beatles), Disraeli Gears (Cream), os debuts de David Bowie e do The Doors, auto-intitulados, Are You Experienced? (Jimi Hendrix), Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane), The Who Sell Out (The Who), Winds of Change (Eric Burdon & The Animals), entre muitos outros -, o rock era basicamente um blues mais acelerado, um skiffle mais técnico, pura lisergia psicodélica ou o rockabilly da década de 1950. No entanto, naquele ano surgiram algumas bandas que, de certa forma, formaram uma encruzilhada entre todos estes estilos que, até aquele momento, eram distintos. O Blue Cheer, o MC5, o Uriah Heep, o Mountain e o The Strooges foram algumas delas. Mas duas delas, em particular, definiram os rumos do que viria a ser conhecido posteriormente como hard rock, já que era visivelmente mais pesado que qualquer blues da época, além de ter uma dose de psicodelia.

Led Zeppelin: John "Bonzo" Bonham (acima), John Paul
Jones, Jimmy Page e Robert Plant
A primeira delas, o Led Zeppelin, foi formada em meados de 1968. Jimmy Page, que tocava com Chris Dreja em um grupo chamado The New Yardbirds (em referência ao grupo do qual Clapton tocou, na primeira metade da década de 1960), ofereceu a Terry Raid o cargo de vocalista de sua nova banda; este recusou, mas sugeriu que Robert Plant, o jovem vocalista do The Band of Joy. Este trouxe consigo o baterista John "Bonzo" Bonham, que não estava nos planos iniciais de Page - este havia pensado em B. J. Wilson, do Procol Harum, e Ginger Baker, que viria a sair do Cream um ano depois. Dreja decidiu seguir a carreira de fotógrafo, e então Page foi procurado por um velho amigo, John Paul Jones, que assumiria o baixo da nova banda, cujo nome, Led Zeppelin, era uma sugestão de Keith Moon (baterista do The Who), que achava que o The New Yardbirds mesclava o peso do chumbo (lead) com a graça de um zepelin (também conhecido como dirigível) ao voar.

Page, Plant, Bonham e Jones gravaram sete álbuns de estúdio e mais um ao vivo, sendo um oitavo disco de estúdio, Coda, lançado em 1982, dois anos depois da morte do baterista John Bonham, que culminou com o fim da banda, e outros dois discos de estúdio, BBC Sessions (1997, gravado nas turnês dos discos Led Zeppelin I e IV, em 1969 e 1971, respectivamente) e How the West Was Won (2003, gravado em 1972, na turnê do disco Houses of the Holy). Outras apresentações posteriores e comemorativas, como no Live Aid em 1985, foram gravadas com bateristas convidados - no caso, Tony Thompson, do Chic, e Phil Collins, do Genesis. Em 1988, com Tony Thompson na bateria, houve uma tentativa e volta da banda, mas um acidente de carro impediu Thompson de fazê-lo. Houveram ainda apresentações com o filho de John, Jason Bonham, e criou-se ainda uma expectativa de que ele pudesse assumir o posto do pai, o que não se concretizou. Atualmente, Page e Plant têm suas respectivas carreiras solo, e Jones e Jason Bonham tocam em dois considerados "supergrupos" que foram formados na década de 2000, respectivamente o Them Crooked Vultures e o Black Country Communion.

A segunda banda, o Deep Purple, também foi formada em 1968, de uma ideia bizarra. O baterista Chris Curtis, do The Searchers, formulou uma banda de nome Roundabout (carrossel, em tradução livre). Como o nome pode sugerir, Curtis queria que os integrantes remanescentes girassem em volta da bateria, como um carrossel que gira em torno de seu eixo. Talvez mais estranha que a ideia foi o fato de que um tecladista, Jon Lord, aceitou participar da "brincadeira". Depois de um tempo sem encontrar mais ninguém proposto a aceitar a ideia, Lord entra em no apartamento e se depara com as paredes cobertas com papel alumínio, e seu amigo Curtis havia simplesmente desaparecido. Lord, então, decide formar uma nova banda do zero: chamou o guitarrista Ritchie Blackmore, que por sua vez trouxe o baterista Ian Paice e o vocalista Rod Evans. Óbvio que o Roundabout havia acabado quando Curtis sumiu, sem sequer ter começado, e a banda precisava de outro nome. Deep Purple foi o escolhido, por sugestão da avó de Blackmore, já que a música homônima, de Bing Crosby, era sua favorita.

Deep Purple (MK II): Jon Lord, Ian Paice, Ian Gillan,
Ritchie Blackmore e Roger Glover
O Deep Purple teve várias formações diferentes. Essas fases foram divididas e nomeadas como "MKs", sendo ao todo 7 MKs diferentes. A mais clássica delas, a MK II (que contava com Ian Gillan nos vocais, Ritchie Blackmore na guitarra, Roger Glover no baixo, Ian Paice na bateria e Jon Lord nos teclados), gravou os discos mais clássicos da banda, In Rock, de 1970 (que catapultou o Purple de uma vez pro todas para o sucesso), Fireball, de 1971 e Machine Head, de 1972, certamente o maior clássico da banda e um dos maiores da história do rock - os hits Highway Star e Smoke on the Water embalam ainda hoje aberturas de shows pelo mundo todo. Ao todo, foram 18 discos de estúdio e mais 35 discos ao vivo - incluindo-se aí vários bootlegs das mais diferentes fases da banda que foram remasterizados e lançados como discos ao vivo posteriormente.

O hard rock veio a ser um sucesso imediato, visto que sua origem bastante diversificada permitiu-o abranger os mais variados gostos musicais dentro do rock. Tal ecletismo ainda permitiu aos músicos do hard fusões pouco encontradas anteriormente, como o funk/soul do Deep Purple em Maybe I'm a Leo (do disco Machine Head) e o blues-rock do Led Zeppelin em seu Led Zeppelin I. O rock, àquela altura, firmava-se como o estilo musical com a maior diversidade cultural de toa a história, com sons que iam desde o pop psicodélico das bandas do Krautrock (com destaque ao Kraftwerk e ao Tangerine Dream) até o primeiro passo do que viria a ser o metal, com bandas que começavam a introduzir o conceito de "peso" à música, como o The Who.

Outro passo importante do hard rock foi que, pela primeira vez na história, o rock passou a não se resumir tão somente no eixo EUA-Inglaterra. Desde que o blues surgiu no delta do Mississippi, nenhuma outra banda havia surgido fora da terra do Tio Sam e de seus respectivos colonizadores. Agora, outros países, até então meros espectadores do circo chamado rock, passaram ao centro do picadeiro: a Escócia revelou ao mundo o Nazareth, que anos depois levaria seu principal hit, Love Hurts, às paradas de sucesso do mundo todo, embalando os casais apaixonados com uma das músicas mais relevantes do chamado Love Metal; da Irlanda veio o Thin Lizzy, que revelou ninguém mais ninguém menos que Phil Lynott e Gary Moore, além da excelente versão da música tradicional irlandesa Whiskey in the Jar, que ficou famosa no cover do Metallica; um trio canadense, o Rush, também bebeu da fonte hard rock, antes de virar-se para o rock progressivo.

Mas é da Austrália que veio a maior sensação da primeira fase do hard rock, talvez a maior banda do estilo. Nascido em 1973, o AC/DC foi formado pelos irmãos nascidos em Glasgow, Escócia, Malcolm e Angus Young. Seu irmão mais velho, George, foi o primeiro a aprender a tocar guitarra, chegando inclusive a tocar no Easybeats, que foi uma das grandes bandas australianas da década de 1960. Embalados pelo voo do irmão, os dois jovens (sem trocadilhos) Young decidiram formar sua própria banda. E a inspiração para o nome veio da Máquina de costura de sua irmã mais velha, Margaret Young. Segundo consta na maioria das fontes, Malcolm teria visto uma inscrição AC/DC (alternate current/direct current, corrente alternada e corrente contínua) na parte de trás da máquina. (Há quem diga que seja uma sigla para Anti-Christ/Dead Christ, Anticristo/Cristo Morto, burburinho que aumentou ainda mais com a composição do primeiro sucesso a nível mundial da banda, Highway to Hell, de 1979). A banda é detentora do título de recordista no número de vendas em um único disco na história do rock, seu álbum clássico Back in Black, de 1980, com cerca de 50 milhões de cópias vendidas - na história da música, ainda há o Thriller, de Michael Jackson, que superou a faixa dos 100 milhões de cópias vendidas.

Já nos anos 1980, prevaleceram as bandas de hard rock que seguiam fielmente ao famoso lema "sexo, drogas e rock 'n roll" - é bem verdade que algumas bandas abriam mão de um ou outro parâmetro, como o Stryper deixou de lado o sexo, os Scorpions abriram mão das drogas e o Bon Jovi menosprezou o rock 'n roll, depois do grande clássico dos anos 1980 Slippery when Wet e seu hit Livin' on a Prayer. Os anos 1980 do hard rock também se caracterizaram pelo excesso de baladinhas por parte das bandas do estilo: a já citada Love Hurts, do Nazareth, Always, do Bon Jovi, Beth, do Kiss e Bringin' on a Heartbreak, do Def Leppard, são exemplos dessa fase "romântica" do hard rock. Mas uma banda, em especial, conseguiu um sucesso estratosférico com tais baladinhas.

Scorpions: Herman Rarebell, Rudolf Schenker, Klaus Meine,
Matthias Jabs e Francis Buchholz
Os Scorpions foram formados na cidade de Hannover, antiga Alemanha Ocidental, no ano de 1965. O guitarrista base e fundador da banda Rudolf Schenker juntou-se a amigos de escola e tocavam pelos bares da cidade, ainda sem nome. O nome Scorpions veio mais ou menos em 1970, quando seu irmão mais novo, à época com apenas 14 anos, Michael Schenker, que tocava no The Mushrooms, e seu amigo vocalista Klaus Meine se juntaram à banda. Michael deixou a banda para integrar o UFO três anos depois, deixando gravado um único disco, o Lonesome Crow, de 1972. Com isso, os Scorpions se fundiram à Dawn Road, uma pequena banda de Dusseldorf. O guitarrista Ulrich "Uli Jon" Roth gravou com os Scorpions clássicos absolutos da banda, que à época ainda era adepta de um hard rock com flertes bem significativos com o psicodelismo e o progressivismo. Após gravar o excelente disco ao vivo Tokyo Tapes, Uli deixa a banda, dando lugar ao jovem guitarrista Matthias Jabs, um ex-jogador de futebol que aprendeu a tocar guitarra enquanto se recuperava de uma contusão. Com ele na lead guitar dos Scorpions, a banda compôs clássicos absolutos do rock, desde o hino Rock You Like a Hurricane até as super baladinhas Always Somewhere - que, dizem alguns, é plágio de Simple Man, do Lynyrd Skynyrd -, Believe in Love e o hit Still Loving You. Nos anos 1990, passaram a tratar de causas humanitárias, como em Wind of Change, com o novo mundo que surgia após o movimento da perestroika, proposto por Mikhail Gorbatchev.

Mötley Crüe: Vince Neil, Nikki Sixx,
Mick Mars e Tommy Lee
Houve ainda uma subvertente do hard rock que merece atenção especial. Estes caras levaram ao cúmulo o uso do bordão citado no parágrafo anterior, ainda que suas performances um tanto suspeitas e seus rostos e cabelos cheios de maquiagem, laquê e purpurina possam dizer o contrário. O glam metal nasceu em meados de 1981, com o Mötley Crüe, embora bandas como o Kiss e o Aerosmith já trouxessem características glam desde os anos 1970. Muitas dessas bandas traziam toda a androginia de David Bowie, aliados com uma figura quase que caricata do que Alice Cooper fazia de suas apresentações nos anos 1960. Enquanto algumas bandas, como o Europe, não se faziam valer tanto das características visuais, por assim dizer, do estilo, outras, como Poison, Ratt, o já citado Mötley Crüe e Twisted Sister, abusavam da maquiagem e de posturas que, não raro, beiravam ao ridículo. Tal postura rendeu ao glam os adjetivos depreciativos de hair metal e false metal. No Brasil, há quem use o termo metal farofa.

Apesar de riquíssimo, o hard rock não foi o único estilo surgido das diversas vertentes dos anos 1960. Uma banda de Birmingham viria a disseminar, no começo os anos 1970, o som do Led Zeppelin aliado à crueza de um som quase cadavérico. Posteriormente, um movimento surgido na Inglaterra viria a abalar toda a base do que conhecemos atualmente por metal. Mas isso é história para um próximo capítulo...