quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

danny gatton - 88 elmira st.

Discos solo de guitarristas têm a característica de primar pela técnica. Por serem trabalhos muitas vezes instrumentais (e, portanto, abrirem mão da composição das letras das músicas), alguns deles "abusam" do direito de lançar discos e emplacam dois, três ou até quatro discos em um mesmo período de 12 meses. John Frusciante, por exemplo, chegou ao cúmulo de lançar seis discos no período compreendido entre junho de 2004 e fevereiro de 2005.

Danny Gatton, no entanto, nunca foi tão "periódico" em seus discos. O jazz man, filho de guitarrista e versado no jazz e no blues desde pequeno, lançava no máximo um disco por ano - a maioria deles são audição obrigatória para os fanáticos por jazz. Foi um gênio subestimado toda vida, e infelizmente suicidou-se em 4 de outubro de 1994. Chegou a ser rankeado como o 63° melhor guitarrista de todos os tempos pela revista Rolling Stone e o 27° pela fabricante Gibson.

88 Elmira St, seu disco lançado em 1991, é o seu maior sucesso. Totalmente instrumental, o disco é calcado no jazz tradicional e no country, em especial, mas apresenta influências claras do rockabilly e do blues. Seu estilo peculiar de tocar me remeteu, a princípio, ao grande B.B. King, apesar de o som ser radicalmente diferente - as reais grandes influências de Gatton são Eric Clapton, Willie Nelson, Steve Earle e, em particular, seu ídolo Les Paul.

Além dos solos virtuosos de Gatton, destaca-se também os solos de saxofone do grande Bill Holloman, além da marcação precisa da bateria de Shannon Ford e do baixo de John Previti, fazendo com que a "cozinha" funcione a todo vapor - como em toda grande banda deve ocorrer, a propósito. Tais aspectos saltam aos olhos, por exemplo, no principal sucesso do disco, bem como da própria carreira de Danny Gatton: Funky Mama é uma música com todo o gingado do soul, mais a levada do blues, a pegada do country e os solos virtuosos do rockabilly. O disco ainda proporciona uma versão à la anos 1950 do tema principal da famosíssima série de TV de Matt Groening, Os Simpsons. Uma verdadeira obra-prima das vertentes que são a base de todo o rock.

Para baixar o disco, clique aqui.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

for against - shade side sunny side (2008)

A banda se chama For Against (Nebraska, EUA) e iniciou seus trabalhos em 1985 fazendo um post-punk de boa qualidade, mas nada que saltasse aos olhos. Com o passar dos anos e sucessivas trocas de músicos, a impressão que ficava não era bem de uma banda, mas de um encontro casual entre colegas com gosto musical comum e vontade de gravar. Shade Side Sunny Side (2008) é uma peça importante dessa curiosa discografia por se tratar de um trabalho econômico, quase sem recursos de estúdio, sem corais vultosos e solos devastadores, sem extrapolações, limitado por definição.

Afinal, o que poderia ser digno de nota nesse mar de simplicidade? Vamos começar por uma ideia comercial eficiente: ouvir música simples, que não transborda e nem se declara num primeiro momento, deixa o ouvinte tentado a ouvir de novo. E de novo. E amanhã também. Vai demorar até que enjoe, pois a música tem cara de ambiente e uma atraente possibilidade de tornar qualquer lugar uma extensão do rock bar mais próximo. O trabalho ganha ares ainda mais alternativos quando você percebe que completou uma audição ouvindo nada mais que voz, cordas e percussão, o básico do básico.

Em lugar de extensas e complexas melodias, os caras optam pela repetição sistemática dos mesmos trechos com leves variações de harmonia e timbre. Assim, dentro de uma mesma faixa, com as devidas quebras de ritmo e distorções, sensações antagônicas são alternadas sem perda de identidade da canção. Ora êxtase, ora calmaria, fica mais fácil decifrar a arte de capa, uma espécie de muro contínuo toda vida separando shade side de sunny side. A música parece feita sob medida para se alinhar ao muro e nunca se distanciar perigosamente dele – isso fica nítido na empolgação caótica e aventureira de Game Over, logo amainada pela balada Spirit Lake.

Pouco ousado e recheado de elementos sonoros que você com certeza já ouviu em outros lugares, ainda assim este disco merece ser ouvido pela inteligência de sua proposta e competência de seus músicos.

Track List:
1. Glamour
2. Underestimate
3. Why Are You So Angry?
4. Afterstate
5. Friendly Fires
6. Game Over
7. Spirit Lake
8. Quiet Please
9. Irresistable

Baixe o álbum aqui.

sábado, 21 de janeiro de 2012

leviathan - deepest secrets beneath (1994)

Assim que este disco chegou às minhas mãos, comentei com o André que sua publicação aqui no blog seria obrigatória. Fico impressionado com a quantidade de coisas boas que não fizeram o devido sucesso, embora tempos depois se tornem clássicos, relíquias que servem de inspiração. Este é o caso de Deepest Secret Beneath (1994) da banda estadunidense Leviathan.

Aqui temos uma espécie de “progressive power metal” tão criativo e bem estruturado que a incógnita musical chamada anos 90 foi incapaz de assimilar. O álbum é bastante linear, homogêneo e as faixas são permeadas o tempo todo pelas mesmas afinações, teclados e coros de estúdio. Recursos suficientes na medida e muita maturidade.

Talvez o grande trunfo seja o domínio explícito dos guitarristas sobre seus instrumentos: John Lutzow e Ronnie Skeen deitam e rolam sobre cada fraseado e abusam da simplicidade, os caras emocionam até nos acordes mais básicos e ensinam pra muito discípulo de Malmsteen por aí como se deve extrair feeling sem perder de vista a técnica.

Estão muito bem acompanhados pela firme marcação do baterista Ty Tammeus – cujas inversões não deixam a música cair no marasmo, defeito comum no progressivo – e pela linha melódica sem frescuras de James Escobedo. O vocal de Jack Aragon não me soa espetacular, mas também não consigo imaginar melhor textura que a dele para completar a proposta humilde (no melhor dos sentidos) que exala deste disco.

Um trabalho sabidamente metal, porém tão polido que ganha ares de concerto. Melhor coisa que faço é estacionar os elogios numa só palavra: essencial.

Track List:
1. Confidence Not Arrogance
2. Sanctuary
3. The Calling
4. Painful Pursuit of Passion and Purpose
5. Not Always Lost
6. The Falling Show
7. Run Forever
8. Disenchanted Dreams (Of Conformity)
9. Speed Kills

Você pode baixar este disco aqui.

sábado, 14 de janeiro de 2012

"vocês não sabem o que estão perdendo"



Quem é a nova geração ouvinte de bom metal pesado? Quando penso com seriedade nesta pergunta, quando tento me livrar dos estereótipos e imaginar que tipo de postura política, ética, filosófica ou crítica norteia esse indivíduo, sinto medo. Medo, pois tudo que vejo é um bando de jovem atrofiado entre a poltrona e o monitor do computador, cidadãos cuja rebeldia se resume a criticar – do alto do santuário de anonimato, máscaras e avatares que a internet tão bem configura – a banda Restart.

Não entendo como pode um indivíduo novo e repleto de perspectivas, alguém em cuja pouca idade o mundo deposita suas esperanças de tempos melhores, permanecer intacto no aconchego da residência enquanto o mundo acontece lá fora. O desabafo de Edu Falaschi, relevada sua mentalidade infanto-juvenil, goza de algum fundamento: a queda de público mais jovem nos shows das bandas nacionais é uma realidade preocupante. Quem não vai aos shows enfraquece a cena musical brasileira e não tem direito algum de cobrar melhores trabalhos dos artistas.

Quem barganha a incrível oportunidade do contato humano pela exposição a um tela-plana sem graça, está lentamente cavando a cova do metal nacional e fazendo sumir as bandas de menor expressão responsáveis pela manutenção da cultura metálica Brasil afora. Aqui o adjetivo “menor” contrasta com o tamanho da garra exibida pelos caras, a paixão que os leva a botarem o pé na estrada ofertando concertos a preços módicos e tomando prejuízo atrás de prejuízo só porque nossos meninos-machos-true-metal-críticos-de-orkut têm medo de vento.

Frequentar os shows não é uma ação de caridade para retardar o envelhecimento de um som que se tornou moribundo nos anos oitenta. Existe bom e variado metal sendo feito em vários cantos deste país e cabe a nós curtirmos absurdamente isso tudo. É inadmissível que em complexos urbanos com milhares, milhões de habitantes, não haja duas centenas deles dispostos a lotarem uma casa na beira da estrada e curtirem um som técnico, forte, de alto nível, executado ao vivo, sem playback, sem frescuras.

Os membros da Restart não têm um pingo de responsabilidade sobre a peça de museu em que está se tornando o metal nacional. Os culpados somos todos nós, loucos da cabeça apaixonados por som desgraçadamente bacana, que não fazemos jus à proporção de nosso amor.